"Aguiolhado de todos os lados, o corpo começou a torcer-se, aflito, E daí a pouco arqueava-se retesado, erguido nos calcanhares e nos cotovelos, a estalar de desespero. Dentro dele, através dele, um outro corpo estranho queria romper caminho. E, por mais que cedesse e alargasse, o inimigo mantinha-se insatisfeito, a reclamar maior espaço, a exigir as portas abertas de par em par. Sem a piedade dos intervalos de há pouco, as dores pareciam cadelas a mordê-la. De cada guinada vencida, nasciam outras guinadas, como rebentos por uma castinceira acima. E toda ela era um uivo de bicho crucificado.
(...) E quando Madalena, ao cabo de uma eternidade cega e raivosa, conseguiu finalmente sair do tronco de tortura, nada mudara. Os fragões sonhavam ainda.
Suava em bica. Escorria das fontes à sola dos pés. O sol já não estava a pino. Ia caindo, agonizante, para os lados do Marão. A última dor morrera há um segundo, ou há horas, ou há semanas? Não sabia. Sabia, sim, que o sofrimento se apagara de vez e a deixara, como deixa o cortiço o enxame que parte.
(...) Abriu de todo os olhos turvos. Entre as pernas, numa poça de sangue, estava caído e morto o filho. Carne sem vida, vermelha e suja. O segredo dela e de Deus!...
Exausta, deixou-se ficar prostrada, a saborear o alívio. As cancelas escancaradas fechavam-se lentamente."
Miguel Torga, Os BichosMoral da Historia em Latin:hac procul Maranus ordenar qui ca est
Até á próxima.........
(as foto-montagens do Joaquim Mendes não são usadas neste blog com sentido depreciativo e o nome Bode Ranhoso é do editor deste blog,peço-vos que não o associem ao Sr Joaquim Mendes pois tenho o maior respeito por ele)
Parabéns pelo artigo.
ResponderEliminaré sempre bom não esquecermos os grandes amantes desta região que tanto amamos.
Um abraço a todos os Maronêses
Muito Bem
ResponderEliminarO Adolfo é simplesmente fabuloso vê-se
toda a força do marão nestas linhas.
parabens Bode
Grandioso
ResponderEliminardeixo aqui um trecho que diz tudo sobre esse grande Homem
converso até onde me vejo obrigado, (...) largo-o logo que posso e regresso a um convívio menos tenso e mais fecundo, (...) sem esperança nos letrados, (...) junto dos analfabetos encontro ainda o riso, a indignação, o espanto...
dixit miguel Torga
o mundo a braços com o drama das diversidades e nós, que há oitocentos anos temos a unidade nacional no território, na língua, nos costumes e na religião, vamos desmioladamente destruí-la?
ResponderEliminaridem idem
Li este post e fiquei a gostar do Miguel Torga,já tinha ouvido falar mas nunca tinha lido nada dele,hoje já fui comprar o livro (os Bichos).
ResponderEliminarObrigado Bode
VIVA o MARÃO
«Cuido que as coisas mais válidas que escrevi, sabem à terra nativa que trago agarrada aos pés».
ResponderEliminarDiário II, p. 150.
São Leonardo da Galafura
ResponderEliminarÀ proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.
Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!
Miguel Torga
Tambem sou apreciador das qualidades
de Miguel Torga
parabens por este artigo Sr Bode ranhoso
As melhores Saudações
Ribeiro Alves-Coimbra
A troca da foto foi boa esta está fantástica e combina com o tema,o nascimento é sempre um tema forte,parabens
ResponderEliminarPassei aqui por acaso e não posso deixar de dar o meu elogio,a este post sobretudo pela montagem fotografica.
ResponderEliminarAvé Bode
Vou deixar o meu contributo a esse homem do Marão.
ResponderEliminar"Liberdade. Passei a vida a cantá-la, mas sempre com a identidade no pensamento, ciente de que é ela o supremo bem do homem. Nunca podemos ser plenamente livres, mas podemos em todas as circunstâncias ser inteiramente idênticos. Só que, se o preço da liberdade é pesado, o da identidade dobra. A primeira, pode nos ser outorgada até por decreto; a outra, é sempre da nossa inteira responsabilidade."
Miguel Torga
ResponderEliminarSimplesmente Brilhante e Curiosa esta foto ,parabéns